A ciência nem sempre precisa de telescópios gigantes ou linguagem técnica para alcançar as pessoas.

Na Paraíba, um grupo independente de pesquisa vem provando que conceitos complexos, como os da radioastronomia, podem ganhar novas formas passando pelo cinema, pela literatura de cordel e por oficinas educativas que dialogam diretamente com crianças, jovens e educadores
O projeto é desenvolvido pelo Brazilian Educational Radioastronomy Group (BERG), braço educacional do Instituto Vinciano de Artes e Ciências, associação sem fins lucrativos que também desenvolve o projeto do Paraíba ponto Cultural. Desde setembro de 2024, o BERG vem implementando diversas estratégias de divulgação científica, especialmente com base em metodologias STEM (Science, Tecnology, Engineering and Mathematics), aproximando o público do universo da radioastronomia por meio da cultura e da educação.
Um dos primeiros resultados desse percurso foi o curta-metragem “Pulsares” , lançado em 2024, que aborda o fenômeno astronômico das estrelas de nêutrons conhecidas como pulsares. O curta foi premiado em festivais de cinema, incluindo uma premiação internacional que possibilitou sua exibição na Polônia dentro da programação do Mastercard OFF Camera na cidade da Cracóvia. Segundo seu diretor, Carlos Alberto, a oportunidade foi muito importante para o grupo pois permitiu que também fossem exploradas ações educacionais em escolas locais e o fechamento de parcerias.

Fruto também dessa missão na Europa, nasce o livro infantil “Nora e os Pulsares”, concebido desde o início em versão bilíngue (português e polonês), ampliando o alcance do projeto e distribuído em escolas na cidade de Torun e da Cracóvia. A partir daí, o grupo percebeu que seria possível estruturar um verdadeiro ecossistema em torno do tema dos pulsares, como relata a Professora Samira Arruda, doutoranda no Ensino de Ciências e Matemática pela UFRN, que também faz parte do BERG. Um dessas ações foi a materialização do cordel “Pulsares: Relógios Cósmicos”, que traduz conceitos da radioastronomia para a métrica e a oralidade da tradição nordestina. A obra já foi apresentada em eventos como o Sarau do GPOP (projeto de extensão da UEPB que busca a popularização da ciência através da literatura de cordel encabeçado pelo professor doutorando e cordelista Jota Lita), a FLIGA (Festa Literária Integrada de Galante), a FLILAR (Festa Literária Integrada de Lagoa de Roça) e a FLIPB (Festas Literárias Integradas da Paraíba), que esse ano foi realizado em Fagundes, FLIBO (Feira Literária de Boqueirão) e do projeto Leitura Viva da FLIC (Feira Literária de Campina Grande) que utilizou o cordel na Escola Semear Montessori junto com os alunos da professora Sara Lopes, além de integrar a programação de escolas e feiras literárias pelo estado.

O trabalho também vem ganhando reconhecimento acadêmico. O cordel originou comunicações em eventos científicos, como o 6º SIMPIF (Seminário de Pós-Graduação do IFPB), e integrar a programação do Congresso Internacional de Literatura de Cordel, realizado na Casa Rui Barbosa, no Rio de Janeiro. Além disso, em artigo recente publicado no Jornal do IHCG (Instituto Histórico de Campina Grande) pelo professor e poeta Roniere Soares, é feita uma análise da métrica escolhida pelo autor Carlos Alberto para compor a peça literária. Parte dessa produção foi registrada em repositórios científicos de acesso aberto como a plataforma Zenodo e Internet Archive, reforçando o caráter educativo e público da iniciativa.
Atualmente, o grupo trabalha na produção de mais sete cordéis que irão compor o livreto “Radioastronomia em Cordel”, consolidando a proposta de usar a cultura popular como ponte entre o conhecimento científico e a sociedade. O Presidente do Instituto Vinciano, Carlos Alberto, cita o trecho da canção “Quanta” de Gilberto Gil: “Sei que a arte é irmã da ciência. Ambas filhas de um deus fugaz”. Mais do que divulgar ciência, o projeto aponta para um caminho possível de integração entre educação, arte e pesquisa, mostrando que o acesso ao conhecimento pode, e deve, dialogar com os repertórios culturais do território onde ele circula!





Conheça mais do projeto em: @berg.vinciano



